José Gomes Quadrado
Dos três antigos tipos de instrumentos aratórios portugueses – radial, arado curvo ou de garganta e tipo quadrangular – o radial foi aquele que durante muitos e muitos séculos, resistindo às múltiplas vicissitudes da História, servira para os nossos avós, pais e alguns amigos (ainda felizmente vivos) lavrarem os solos delgados e secos da nossa região, onde tradicionalmente se semeava, sobretudo, o centeio. Quanto à sua origem, o notável antropólogo Professor Jorge Dias, no livro que me serve de referência, admite duas hipóteses: “ou chegou com as primeiras imigrações indo-europeias” ou “teve o seu berço” na Lusitânia (1). O que nem ele nem outros especialistas jamais aceitaram, é que alguns conceituados autores tenham desenvolvido o infundado costume de chamar “arados romanos” a todos os arados de pau, inclusivamente ao tipo de instrumento agrícola que foi usado não só no nosso concelho, mas também em toda uma grande área geográfica, abrangendo, mormente, os distritos de Bragança, de Vila Real e da Guarda (2), região geográfica e natural que o eminente geógrafo Orlando Ribeiro designou de “Norte Transmontano”. Esta e as outras duas regiões geográfico-naturais referidas neste trabalho, foram definidas segundo o critério implementado por Orlando Ribeiro e depois, curiosamente, Jorge Dias concluiu que a cada uma dessas três regiões correspondia um dos três tipos de arados por si classificados (Figura 1).Para muitos historiadores e antropólogos é ponto assente que a origem comum dos arados tenha sido o galho inteiriço de árvore que se arrastava no chão para rasgar a terra. Antes desta experiência, ao longo duma infinidade de séculos, as populações nómadas viveram “ao deus dará”, mudando constantemente de sítio, em busca de alimentos, abrigando-se onde calhava. Nesses recuados tempos, enquanto os homens se ocupavam na caça, na pesca, e até na pilhagem, as mulheres, além de cuidarem dos filhos, empregavam grande parte do seu tempo na colheita de frutos e de cereais silvestres nos sítios por onde passavam. Depois, verificando que as sementes caídas no chão (decorrido algum tempo) germinavam, passaram a fazer as suas sementeiras. Assim, enquanto os homens se mantinham naquelas ocupações, as mulheres, continuando a tratar dos filhos, teriam passado a esgravatar a terra com a ajuda de uns paus aguçados ou em forma de gancho (como se fossem sachos ou enxadas) para, a seguir, lançaram à terra remexida as sementes previamente seleccionadas. E este teria sido o começo da chamada “agricultura primitiva”.
Até há bem pouco tempo, considerava-se que o uso doméstico do trigo e da cevada tinha começado há 10 mil anos, no Médio Oriente. Mas segundo uma informação publicada na revista britânica “Nature”, uma equipa do Instituto Smithsonian de Washiington descobriu, na costa do mar da Galileia (Israel), um acampamento com 22 mil anos, onde encontrou (para além dum forno arcaico) “150 grãos de cereais selvagens” e junto deles, duas pedras que teriam sido usadas para moer os cereais silvestres. Com base nesta recentíssima descoberta, podemos concluir que o Homem já cozia pão 12 mil anos antes do aparecimento da acima referida agricultura primitiva.
E´ ponto assente que o Médio Oriente foi uma das regiões onde mais cedo teve lugar o sedentarismo, e com ele a necessidade do ser humano produzir uma parte importante da sua alimentação e vestuário, procedendo à progressiva domesticação e criação de animais, ao mesmo tempo que a muito pouco produtiva agricultura primitiva foi sendo substituída por uma outra, quando mulheres e homens, para além da pastorícia, assumiram, também, a função de agricultores, passando a arrastar pelo chão, não um simples galho, mas aquilo a que o poeta grego Hesíodo (séc. VIII a C.) chamou ”antonion aratron” (arado duma só peça) feito do tronco duma árvore ou duma pernada, previamente seleccionados, bifurcados em dois galhos, dos quais o mais forte e curto serviria de relha e o mais comprido e delgado de rabiça. E com este “avô dos arados” rasgavam a terra, abrindo sulcos prolongados onde lançavam as sementes. As primeiras experiências teriam sido feitas com os humanos (mulheres e/ou homens) a puxarem por ele, passando mais tarde essa árdua tarefa a pertencer a animais já domesticados, nomeadamente ao gado bovino, que teria sido a primeira espécie adaptada à função de animal de tracção. E teria sido deste modo que teve início a chamada agricultura arativa.
Com o decorrer dos séculos, partindo de experiências semelhantes a esta, foram sendo criados os diferentes tipos de instrumentos aratórios. Na opinião de alguns dos mais conceituados especialistas, o primeiro arado terá surgido, em plena Idade do Bronze, para lavrarem os fertilíssimos campos da Mesopotâmia. E o velho arado babilónico, depois de ter evoluído, ter-se-ia expandido pela bacia do Mediterrâneo, dando origem ao arado curvo ou de garganta, tipo que incluía o arado romano, e que se caracterizava, principalmente, por apresentar a rabiça e o temão bastante encurvados.
Depois dele, outros e variados arados foram produzidos em diferentes épocas e lugares, mais ou menos aperfeiçoados, conforme as diferentes paisagens naturais, as tradições e o progresso tecnológico, e assim foram sendo construídos os vários tipos de arado que chegaram ao século XX, morfologicamente puros ou tomando formas híbridas, quando postos directamente em confronto com outros tipos de arado mais ajustados às necessidades das respectivas regiões.
Através do “Quadro Tipológico dos Arados Portugueses” (Figura 2), podemos verificar que dois dos três principais tipos apresentam alguns modelos diferentes, para além de nos revelar alguns dos principais arados híbridos. No centro do quadro está o arado radial lusitano, que era o tipo que mais facilmente deixa perceber a procedência do referido “antonion aratron”, nomeadamente se levarmos em linha de conta que alguns exemplares do arado radial da era contemporânea eram construídos inteiramente de pau, incluindo a própria relha. Jorge Dias, no livro abaixo referido, informa ter ouvido falar da existência de arados com “relha de piorneira endurecida no fogo”, os quais, nas primeiros anos do século passado, ainda eram utilizados “em certas aldeias da serra de Montemuro” (3). O arado radial feito inteiramente de pau teria sido, de acordo com o parecer de Jorge Dias, o que primeiramente foi utilizado para lavrar no território que hoje constitui Portugal.
Onde ele começou a ser substituído pelo arado curvo ou de garganta foi no do território situado a Sul do rio Guadiana, dada a sua proximidade com a civilização tartéssica (desenvolvida entre os séculos VIII e V antes de Cristo) que o teria trazido ou pelo menos divulgado, para lavrar as magníficas terras andaluzas e por “contágio”, chegou ao agora denominado Algarve e a algumas regiões do Alentejo.
Portanto, quando os romanos se apossaram da parte ocidental da Península Ibérica encontraram o desconhecido arado radial lusitano (ao qual não consta que lhe tenham introduzido qualquer alteração) e numa região situada ao sul da Lusitânia, o referido arado do tipo mediterrânico, que alguns autores designam de “verdadeiro arado romano”, por ele ser do tipo semelhante ao que era conhecido e usado nas regiões mediterrânicas do império romano. Durante os séculos que durou o seu domínio, verificaram-se profundas alterações na situação económica da Lusitânia e, gradualmente, aconteceu a substituição do radial lusitano pelo arado de garganta, cuja difusão que se foi estendendo para norte, até atingir as proximidades da Serra da Estrela, na região “Sul” ou “Portugal Mediterrânico”, onde sempre foi semeado, principalmente, o trigo. E por aqui se manteve activo até ao século XX.
Figura 2 – Quadro tipológico dos arados portuguesesHistoriadores e cientistas romanos deixaram-nos descrições sobre o tipo de arado quadrangular e processos de lavrar em uso na Gália, integrada, como é sabido, no vastíssimo império romano. Por exemplo, Plínio, o “Velho”, na sua “Historia Natural”, deixa-nos a informação de que nas terras fundas da Gália os pesados arados chegavam a ser puxados por duas ou três juntas de bois, atrelados em fila. Este cientista romano, menciona nesta volumosa obra que na “Ractia Gallia” (actual cantão suíço de Valais) surgiu o primeiro arado com duas rodas. Todavia, este tipo de arado não chegou cá através dos romanos, mas somente a partir do século V, com a implantação do reino suevo (com a capital em Braga). No território ocupado por este povo germânico, o arado radial lusitano que até então subsistira, viria a ser substituído, gradualmente, pelo arado quadrangular, muito mais pesado devido ao ferro que entrava na sua construção e propício à lavragem de terras fundas e humosas, como são as que avultam no designado “Norte Atlântico”, solos muito idênticos aos das regiões do norte e centro da Europa, donde estes e outros invasores germanos vieram.
Apesar da sua progressiva substituição pelos outros tipos de arados nestas duas regiões geográfico- naturais, uma das provas da importância nacional do arado radial lusitano no século XVI, está patenteada no facto de a sua figura aparecer gravada numa das páginas das Ordenações Manuelinas (4) (Figura 3).
Figura 3 - Arado radial lusitano no século XVI
Como se pode ver na cópia da cena agrária aqui reproduzida, um agricultor aparece a lavrar com um arado radial sem aivecas, segurando com a mão esquerda a rabiça e com a direita uma aguilhada que apresenta na extremidade inferior uma pazinha (“arrelhada”), destinada a limpar a relha e a parte inferior do dente.
A sua substituição pelo arado quadrangular no “Norte Atlântico” tornar-se-ía praticamente absoluta, depois da chegada do milho com mais de uma maçaroca (oriundo das Américas) e com a sua predominante sementeira nesta região. Apropriado para lavrar solos fundos, húmidos, humosos e de regiões planas, o “arado do milho” foi sendo vulgarizado na faixa litoral que vai do rio Minho até terras de Leiria (como Porto de Mós); a Leste vem ao longo da barreira de condensação formada por sucessivas serras, variando à medida que se foi estendendo para sul e em contacto com o ardo de garganta, tomando, então, formas cada vez mais híbridas, cruzamentos assinalados no ”Quadro Tipológico dos Arados Portugueses”.
Portanto, primeiro no Sul do nosso território, depois na região Noroeste e em regiões do litoral do centro do País, o mais leve, o mais singelo e o mais antigo dos arados portugueses foi sendo substituído por outros tipos de arado maiores, mais pesados e robustos, recobrindo a diversidade histórica, geográfico-ecológica e funcional. A sua subsistência ficou circunscrita à província de Trás-os-Montes e Alto Douro, ao “Nordeste Beirão” e até ao “Minho Serrano”.
Evidentemente que não há aqui a pretensão de caracterizar os vários arados radiais que foram usados em Portugal, mas, especialmente, aqueles que ainda conheci, na primavera da vida, em terras onde residi: nas Mós do concelho de Foz Côa e em Mogadouro (Figuras 4 e 5). Nestes dois concelhos o velho arado radial manteve--se funcional até meados do século XX, ainda que entre os arados predominantes nos dois concelhos existissem algumas diferenças morfológicas do esqueleto como, por exemplo: no formato da rabiça, na teiró (de madeira ou de ferro), nos tipos de relha, etc. Mas as principais variações residiam, acima de tudo, na terminologia.
Mas como arados radiais que eram, tinham como característica comum o facto das suas três peças estruturais: o dente (rasto ou rabela) o temão (timão ou vara) e a rabiça (ou mãoseira) irradiarem do mesmo sítio: a ponta traseira do dente.
O chamado conjunto dental (rabiça ou mãoseira e rasto ou rabela) nos arados radiais mais arcaicos, como aquele arado quinhentista, era feito dum só pau inteiro, mas os menos arcaicos, como nas Figuras 4 e 5 ficará demonstrado, tinham o referido conjunto dividido em duas peças de madeira distintas.
Este desdobramento ter-se-ia ficado a dever à dificuldade que consistia em conseguir os paus mais indicados para o seu fabrico. Mesmo quando o conjunto passou a ser fraccionado, era custoso encontrar madeira adequada, devido não só ao (mais ou menos) acentuado grau de curvatura existente na ligação rabiça-dente, mas também ao caprichoso formato da parte superior da rabiça: a mãoseira era tanto mais perfeita e graciosa, quanto o permitiam a peça ou peças de madeira e a habilidade artesanal do carpinteiro. Assim, se o lavrador não obrigava a árvore a crescer de maneira a fornecer os paus curvos necessários para se fazerem aquela ou estas peças do referido conjunto, tinha que recorrer a um madeireiro que lhe venderia paus que fora escolhendo ou preparando para essa finalidade, por um preço mais elevado do que outras peças de madeira comuns. Comparando as três figuras inseridas no texto, pode verificar-se quão variável era o grau de curvatura do conjunto dental.
Na extremidade inferior do dente eram fixadas dois tipos de relha: a relha de encaixe e a relha cravada. Aquela era feita de chapa de ferro, pesando cerca de 5 quilos e com 2 centímetros de espessura e apresentava uma concavidade (a gola) que permitia o seu perfeito encravamento na ponta do dente. A outra relha era mesmo cravada na extremidade do dente, rasto ou rabela.
Mais ou menos a meio da parte côncava do conjunto dental, junto ao ângulo formado pela rabiça e pelo dente, havia um orifício onde ficava fixado um pau de três ou quatro metros de comprimento, cerca de quinze centímetros de diâmetro, direito ou muito levemente encurvado: era o acima referido temão (timão ou vara), que na outra extremidade tinha dois furos, onde funcionava a chavelha (ou cavilha) destinada a prender o arado ao jugo duma junta de bovinos ou à canga duma parelha de bestas. Nos arados destinados a lavrar com um só dos animais de tracção, no designado arado radial “escachado”, a parte dianteira do temão era constituída por duas hastes encurvadas, quase sempre feitas de negrilho, unidas atrás para, tal como aquele, se fixaram na rabiça.
O temão ou vara era atravessado verticalmente pela teiró ou ateiró, que na maior parte dos casos era uma peça de madeira com cerca de 6 centímetros de largura, 2 de espessura, por 60 de comprimento (no arado de Mogadouro era de ferro) fortemente encravada na face inferior do dente, formando um ângulo mais ou menos agudo, já que a teiró podia ser regulada por meio de cunhas de base do temão e da chaveta (chave ou “têsa”), peça que servia para fixar ateiró de acordo com a profundidade da lavra pretendida. Assim, por exemplo, para lavrar os solos mais delgados como são os da maioria da nossa região, erguia-se e fixava-se o temão até no ponto mais alto da teiró; para lavrar terras fundas era retirada a cunha do temão e a chaveta (ou chave) da teiró; em seguida, fixava-se o temão no ponto mais baixo da teiró e colocava-se novamente a cunha na base do temão.
Alguns arados radiais tinham um mexilho ou pespeneiro de ferro, que atravessava a rabiça, no qual eram fixadas as aivecas ou orelheiras que acabavam presas na parte fundeira do dente, no interior da relha.
As madeiras mais utilizadas na construção deste nosso arado eram: as de freixo, as de negrilho, as de carvalho e até as de carrasco.
Algumas das diferenças morfológicas do esqueleto entre o arado da “Terra Quente” (a que pertence o nosso concelho) e o da “Terra Fria“ (que abrange as terras do Mogadouro), resultavam de diferenças geomorfológicas e das tradições de cada uma das regiões.
O radial lusitano mais simples e mais leve era o mais indicado, como atrás ficou dito, para rasgar solos magros, secos, ladeirentos e fragosos, solos que requeriam, portanto, lavras pouco fundas e atentas, de modo a evitar o choque com as fragas ou arrancar as raízes de árvores e de plantas perenes que evitam o deslizar de terras e a erosão excessiva. E sendo o mais manejável, era também o mais fácil de transportar nos caminhos ruins e ladeirentos da nossa montuosa região. A todas estas características favoráveis, juntava-se a barateza da sua construção e reparação e por isto era, também, o que melhor se ajustava às fracas posses dos nossos agricultores tradicionais. No planalto mirandês (onde ficam situadas as terras de Mogadouro) predominam os lameiros, os solos fundos, húmidos e planos. E se o arado radial também por aqui sobreviveu até meados do século passado, era porque para além de vantagens económicas e funcionais, o arado era um produto muito ligado às tradições regionais, e no entendimento das pessoas, a produtividade agrícola dependia, sobretudo, das condições naturais, que permitiam ou não o seu desenvolvimento.
Os nossos mais remotos antepassados viveram centenas de milhares de anos sem a preciosa ajuda desta alfaia agrícola, e desde o aparecimento do primeiro arado radial lusitano, teriam decorrido quantos? Dois escassos milénios?!
Depois de algumas (poucas) alterações morfológicas sobreviveu, apesar de confrontado com novidades trazidas por outros tipos de instrumentos de lavrar, mais sofisticados, mais pesados e mais caros. Há cerca de meio século, passou à situação de reforma. Pouco depois encontrei alguns abandonados no fundo dos quinteiros ou das curraladas; outros avistei encostados a velhas paredes de propriedades rústicas. E porque todos eles desapareceram, sou levado a concluir que apodrecidos ou não, acabaram transformados em cavacos e queimados.
Quem viu como se lavravam as nossas terras na primeira metade do século XX e não recorda o arado radial, comete o “pecado” da ingratidão! Em todo mundo civilizado há museus onde estão expostos os mais variados tipos de arado, dado que a sua utilização foi decisiva para a evolução económica e cultural da Humanidade. Como procurei demonstrar, a sua utilização para rasgar a terra, além de permitir sementeiras suficientes para alimentar as populações, permitiu também, a descoberta da tracção animal, tornando menos penoso o trabalho humano. E a terminar, acrescento: esta forma de tracção induziu ou levou à descoberta da roda que está na base de todo o desenvolvimento tecnológico da nossa civilização.
NOTAS
(1) Jorge Dias, Os Arados Portugueses, página 210.
(2) Soube que no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo também se lavrava com arados de garganta, por influência dos vizinhos “espanholes”.
(3) Jorge Dias, Os Arados Portugueses, página 54(4) J Leite de Vasconcelos, Boletim de Etnografia, nº2, pág. 16.
BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA
Jorge Dias, Os Arados Portugueses e as Suas Prováveis Origens, Porto, 1947.
Orlando Ribeiro, Portugal, O Mediterrâneo e o Atlântico, Coimbra, 1945.
Jorge Dias e Fernando Galhano, Atlas Etnológico de Portugal Continental, Lisboa, s/d.
Descrição do Carro de Bois e do Arado, Sem autor designado, Lisboa, 1868.
J. Leite de Vasconcelos, Etnografia Portuguesa – 5º Volume, Lisboa, 1933.
J. Leite de Vasconcelos, Boletim de Etnografia nº2, Lisboa, 1923.